quinta-feira, 3 de setembro de 2020

2014 - Scaglia - Manual de Entomologia Forense



O presente livro vem preencher uma lacuna, de há muito existente, na área prática das Ciências Forenses, no País.

Não se trata de ignorar outras obras similares, e de valor, neste campo, no estrangeiro, mas que justamente por isso foram estruturadas e adaptadas a uma realidade completamente diferente da nossa.

Destarte, depois de onze anos de convivência diuturna no Instituto de Criminalística, primeiro do Departamento Estadual de Polícia Técnico-Científica (DEPC), depois transformado em Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC) do Estado de São Paulo, estamos a oferecer a síntese de nossas experiências. Assim, das mesmas poderão utilizar-se colegas, principiantes ou não, de forma a não deixar se perderem elementos de prova valiosos, quer na complexidade da cena de crime, quer nas dificuldades do exame necroscópico.

Estreitamente correlacionada com a atuação forense, está a função pericial, que na área criminal envolve tanto os Peritos Criminais como os Médicos-Legistas, da parte dos quais hão de ser envidados todos os esforços para auxiliar a Justiça na busca da verdade real. Sem paixões, mas com denodo, sem corporativismo preconcebido, mas com a isenção de quem tem nas mãos a orientação necessária para a distribuição da Justiça. Por isso é que, nesta obra toda, se esmiúça a prova entomológica. 

As Ciências Forenses – entre as quais a Entomologia, diga-se – não é mais um conjunto de disciplinas que exigem profissionais enciclopedistas, e sim profissionais capazes de trabalhar em equipe, não apenas no silêncio do laboratório mas, também, no fragor do trabalho de campo. Isso porque de há muito as Ciências Forenses deixaram de ser um amontoado cognitivo para transformar-se, talvez até pela própria globalização, em um emaranhado multiprofissional, no qual conhecimentos outrora conservados em compartimentos estanques hoje sedevem imbricar, devem se entrelaçar, permear-se, para constituir um auxílio muito mais profícuo para os operadores do Direito.

A Entomologia, por sua vez, parece ter sido transformada em uma Cinderela, nos meios forenses. Poucos conhecem, a rigor, qual é sua área de abrangência. Menos, ainda, os que a professam no cotidiano. Ínfimo o número, dos que a aplicam. É natural, o adágio francês já bem o resumia: On trouve ce qu’on cherche et... on cherche ce qu’on connaît!

Os que dedilham as músicas apenas de ouvido acham que técnicas sofisticadas e dispendiosas são as panaceias, que tudo resolvem. Ledo engano. 

Afora a identificação dos perfis de DNA, tanto em humanos como nos insetos, cujas larvas devoram os primeiros, saindo dessas sofisticações, ainda o olho arguto e a atenção vivaz são os instrumentos que melhores resultados nos oferecem. 

E aí, aqui e acolá, como ínsulas rebeldes no nosso país ou alhures, em pontos extremos do planeta, excelentes profissionais teimam, resistem e se opõem a essa tendência ao desaparecimento de uma ciência tão antiga, quanto o é a Entomologia.

Na Entomologia Forense, acreditamos que nas Universidades e nos Institutos de Pesquisa se faça necessário começar a pensar, urgentemente, em promover a reativação de algumas áreas, bem como a incentivar o desenvolvimento de outras, notadamente nas Academias de Polícia, onde deveriam ser ministrados cursos de reciclagem, específicos e/ou de formação, tanto para Médicos-Legistas como para Peritos Criminais.

Isso no campo experimental, com pesquisa aplicada, estudos de laboratório, ambientes de trabalho específico, como fonte de ganhos de conhecimentos, aprimoramento dos profissionais, e uma melhor distribuição dos recursos, escassos, com que contam essas instituições.

Importante lembrar que, embora o profissional tenha a sua especialidade (balística, toxicologia, tanatologia, psiquiatria etc.), este deve ter um conhecimento universal e trasdisciplinário, digo, trasdisciplinário, e não multidisciplinário, tampouco intedisciplinário, pois assim continuaríamos separando as ciências e as disciplinas. Na trasdisciplinariedade, não há fronteira entre as ciências. 

É como a faca que, ao cortar as diferentes camadas de um bolo, absorve em sua lâmina o conteúdo de cada uma delas.

Quando observamos uma cena de crime, absorvemos o conteúdo da mesma com a mente aberta, e não apenas pensando na parte de que temos conhecimento, pois, aquilo que não sabemos podemos aprender no trabalho de equipe. Vale o ditame: “Ciúme profissional sim, ciúme entre profissionais, nunca”. (Jorge Alejandro Paulete Scaglia)


Apreciem sem moderação.


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